1- Factores ligados à organização e funcionamento
- Escassez de recursos humanos, principalmente no sector de ajudantes de lar, o que faz com que o nº de clientes para cada profissional, seja elevado e o cuidar seja sem qualidade, colocando em risco o bem-estar, a saúde e a qualidade de vida dos seniores. Também em outros sectores (cozinha, serviços gerais, administrativos, técnicos…) a escassez de recursos humanos cria cansaço, conflito, mal-estar, falta de atenção e foco por excesso de trabalho, favorecendo o trabalho sem qualidade e mau-trato.
- Falta de supervisão técnica especializada, onde a equipa técnica e outros trabalhadores possam ser acompanhados e fazer a catarse do seu quotidiano, discutir casos e novas formas de abordagem, avaliar e reflectir a prestação de cuidados e realizar os ajustes necessários de modo a prevenir o mau-trato.
-Inexistência de uma posição clara face ao abuso institucional, por parte dos órgãos dirigentes e da equipa técnica.
-Incapacidade para acompanhar a evolução das necessidades dos clientes, por excesso de trabalho, por má distribuição de trabalho ou por falta de conhecimento técnico. -Falta de condições de conforto e bem-estar nos serviços ou equipamentos (muito frio, muito calor, pouca ou excesso de luminosidade, cadeiras, camas pouco confortáveis…) -Inexistência de momentos de avaliação do tipo de cuidados prestados, procedendo-se aos respectivos ajustes, prevenindo algum tipo de violência. - Expropriação de objectos pessoais dos clientes, por desvalorização dos mesmos sem pedido de autorização ao cliente e exploração financeira, solicitando comparticipações acima das abrangidas pela Lei ou outros bens como imóveis, totalidade da reforma ou pensão, entre outros.
2- Factores ligados aos recursos humanos
- Falta de reconhecimento por parte das equipas técnicas e dirigentes pelos cuidados prestados, originando atitudes menos cuidadas no Trato com os seniores, por insatisfação com a carreira profissional e recompensa monetária. - Possibilidade de negligência por parte de quem tem mais poder formal, nomeadamente quando ignoram as aspirações dos cuidadores e clientes aquando da tomada de decisões que os afectam, reforçando ciclos de não-participação e falta de transparência, abuso de poder, inadequação de cuidados que conduzem obrigatoriamente ao mau funcionamento da instituição e á violência hierarquizada numa pirâmide descendente, cuja base são os clientes seniores. - Aumento do perigo de cansaço profissional – alguns seniores sofrem de doenças incapacitantes, demências, desvios de personalidade ou personalidades mais difíceis, que podem despoletar e potenciar nos cuidadores grande frustração, originando más práticas nos cuidados. - Inexistência e desinteresse por oportunidades formativas de qualificação dos cuidadores ou não permissão de participação nas mesmas. - Desatenção, desrespeito e falta de compreensão dos cuidadores para com os clientes por diferenças culturais e religiosas. - Infantilização ou “dementização” do sénior e substituição abusiva nas conversas e decisões, como por exemplo não acompanhar á casa de banho, porque o cuidador pensa não ser necessário, ou não está disposto a fazê-lo. - Falta de consciência dos cuidadores de que estão a ser abusivos, acreditando que estão a fazer o melhor. - Exigência de horários rígidos aumentando a possibilidade de burning out pelo stress negativo acumulado no trabalho.
3- Factores Ligados aos Familiares
- Institucionalização e cuidados compulsivos, visitas curtas, esporádicas ou inexistentes. -Expropriação de objectos pessoais e exploração financeira -Infantilização ou “dementização”, desrespeito do familiar sénior e substituição abusiva nas conversas e decisões.
4- Factores ligados aos Seniores e/ou em situação de dependência
- Medo de reportar situações de abuso por receio de retaliações ou por desconhecimento dos seus direitos. - A doença de que são portadores incapacita-os de denunciar o abuso -Situações de conflito entre os próprios clientes -Atitudes abusivas dos clientes para com os cuidadores (praguejar, gritar, beliscar, arranhar, empurrar) e com as quais os cuidadores têm muita dificuldade em lidar, principalmente se não tiveram a formação, o reconhecimento, as condições de trabalho necessárias ao exercício das suas funções.
(Adaptado de Prevenção á Violência Institucional, Edmundo Martinho, 2002)
Regina Lourenço
Assistente Social - Academia de Empreendedorismo em Serviço Social
Supervisão Profissional em Serviço Social na área do Envelhecimento e Empoderamento Profissional
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